PALAVRA
Joel Haroldo Baade
Teólogo
Uma força transformadora
O
conceito “protagonismo” remonta ao teatro. A pessoa protagonista é a figura
central da peça teatral, em torno da qual gira toda a trama. Por extensão do sentido
desse termo, a pessoa que exerce o protagonismo tem papel de destaque na
sociedade em que está inserida. Dessa forma, a vivência do protagonismo se opõe
a uma postura de passividade. No teatro, essa postura cabe às pessoas figurantes
ou, no máximo, às pessoas coadjuvantes, que ocupam papel secundário na
história.
Contudo,
na sociedade atual, organizada em torno do consumo e fortemente marcada por uma
mentalidade individualista, prioriza-se um protagonismo deturpado. Nesse caso, a
pessoa protagonista passou a ser vista muito mais como alguém que alcança êxito
econômico e sucesso profissional, ignorando quase completamente os anseios
coletivos, inclusive os da própria família. Para muitas pessoas, isto pode se
tornar um fardo bastante pesado de carregar, pois toda a responsabilidade pelo
sucesso recai sobre a própria pessoa. Entre as pessoas jovens, esta pressão é
sentida especialmente na formação acadêmica e no exercício de sua vocação no
mercado de trabalho. Então, elas acabam tendo toda a sua energia canalizada
para dentro da lógica capitalista e consumista.
Como
pessoas cristãs, pensamos em outro tipo de protagonismo. Como revela a própria origem
do conceito, a pessoa protagonista, mesmo exercendo papel central na trama, não
vive isolada, mas justamente numa rede de relacionamentos. Isso acontece
especialmente com as pessoas jovens, que têm uma força transformadora
gigantesca, pois a inquietação e o anseio por mudança fazem parte da sua
essência (GALLO, 2007). Nesse sentido, o protagonismo juvenil tem grande
potencial de transformação social.
O protagonismo como essência do cristianismo
Do
ponto de vista bíblico e confessional, sugere-se a abordagem do protagonismo
sob o viés da liberdade cristã e, ao mesmo tempo, do serviço em amor (Rm 13.8 e
1Co 9.19). Nessa perspectiva, todas as pessoas são convidadas ao protagonismo,
que não é muito diferente do que colocar-se a serviço da próxima e do próximo.
Pelo batismo e através do Espírito Santo de Deus, todas as pessoas são chamadas
a ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).
A
vivência deste protagonismo não exige ações extraordinárias, mas ocorre de modo
muito eficaz no dia a dia, através das pequenas e persistentes ações que servem
de testemunho concreto da nova vida trazida por Cristo. Podemos ver, a partir
disso, que o tema do protagonismo cristão está estreitamente relacionado com o
tema do ano da IECLB. Em primeiro lugar, somos convidados e convidadas a “ser”
autenticamente cristãos e cristãs, e não apenas imitar aquilo que é ditado como
moda. Em segundo lugar, a existência cristã nos impele à participação, a
deixarmos a nossa marca por onde quer que passemos. E esta ação cristã é também
testemunho num mundo carente da graça de Deus.
Por
fim, perguntamos como a pessoa jovem assumirá o seu papel de protagonista na
trama da vida. Não há aqui uma receita mágica, mas entendemos que o
protagonismo somente é possível com base em uma convicção pessoal. Ou
seja, o protagonismo fará parte da vivência juvenil na medida em que cada jovem
descobrir que é importante e capaz de contribuir para as mudanças que deseja no
mundo. Por isso, nosso papel é tentar aproximar a mensagem do Evangelho da vida
das pessoas jovens para que elas encontrem espaço para expressar os seus
anseios, inquietações e medos, bem como suas esperanças e alegrias.
Passando a palavra
Todas
as pessoas são chamadas por Deus, através do seu Espírito Santo, a serem
protagonistas, ou seja, terem papel de destaque na igreja e na sociedade. Esta
ação é fruto do amor cristão. O protagonismo cristão não é ação extraordinária,
mas vivência concreta da liberdade cristã através das pequenas ações do dia a
dia.
Fonte: PALAVR@ÇÃO on-line 2
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